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Diagnóstico Errado de Autismo: Quem Paga o Preço pelo Erro?

⏱️ Leitura estimada: 5 minutos
5 de abril de 2025 por
Diagnóstico Errado de Autismo: Quem Paga o Preço pelo Erro?
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Diagnóstico Errado de Autismo - E agora? 

Em um tempo onde o número de diagnósticos de autismo cresce exponencialmente, um novo dilema assombra muitas famílias: e quando o diagnóstico está errado?

Afinal, estamos falando de algo que redefine toda a estrutura familiar, educacional e até financeira de quem recebe a notícia.

Mas... o que acontece com o profissional que erra? Existe punição? A família pode ser indenizada? E mais importante: o que esse erro revela sobre o sistema de saúde, a pressa dos diagnósticos e o abismo entre informação e sensibilidade?


Crescimento dos Diagnósticos de Autismo e o Desafio do Sobrediagnóstico

📈Crescimento dos diagnósticos de autismo: Nos últimos 10 anos, o aumento global nos diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) ultrapassou os 300%. No Brasil, a média passou de 1 em cada 150 crianças para 1 em 36, segundo estimativas recentes. Esse crescimento, embora em parte reflexo de uma maior conscientização e aprimoramento dos critérios diagnósticos, também levanta a bandeira vermelha para o Sobrediagnóstico. A facilidade com que crianças são diagnosticadas com autismo tem gerado uma verdadeira "epidemia diagnóstica", onde nem todos os casos são, de fato, TEA.

O Sobrediagnóstico de autismo é um fenômeno preocupante, similar ao que ocorreu com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) no passado. Estima-se que uma significativa dos diagnósticos pode estar incorreta. Um estudo publicado pela Psychiatric Services mostrou que 1 em cada 5 crianças diagnosticadas com TEA pode ter recebido um diagnóstico impreciso. 

🧪A evolução dos critérios diagnósticos: Com o avanço da neurociência e das atualizações no DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a sensibilidade aumentou — mas isso também abriu brechas para diagnósticos apressados, mal conduzidos ou até levados por interesses financeiros.


Causas do Diagnóstico Errado

Diversos fatores contribuem para o diagnóstico incorreto de autismo:

  • Falso Positivo: Crianças que apresentam sinais iniciais que se assemelham ao TEA, mas que, com o tempo e o desenvolvimento, perdem esses sintomas. Isso pode ocorrer em 10% a 25% dos casos.
  • Fatores Socioeconômicos: Em algumas regiões, o diagnóstico de autismo pode ser um facilitador para o acesso a programas de atenção e serviços especializados, o que, infelizmente, pode incentivar diagnósticos menos rigorosos.
  • Diagnóstico por Similaridade: A confusão com outros transtornos do neurodesenvolvimento que apresentam comportamentos semelhantes aos do autismo é uma causa comum. Muitos profissionais, por falta de conhecimento aprofundado, podem interpretar erroneamente sintomas de outras condições como sendo de TEA.
  • Falta de Conhecimento e Avaliação Inadequada: A carência de especialistas qualificados e o uso inadequado de ferramentas de triagem (como o M-Chat) como instrumentos diagnósticos definitivos contribuem significativamente para erros. Ferramentas de triagem são importantes para identificar riscos, mas não substituem uma avaliação diagnóstica completa e aprofundada.

Condições Frequentemente Confundidas com Autismo

É crucial reconhecer que nem todo comportamento atípico indica autismo. Muitas condições podem apresentar sintomas que se sobrepõem aos do TEA, levando a diagnósticos equivocados.

  • Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): Dificuldade de concentração, impulsividade e desafios sociais podem ser confundidos com sinais de autismo.
  • Transtorno de Ansiedade Social: Crianças com ansiedade social podem evitar interações sociais e ter dificuldade em fazer amigos, o que pode ser mal interpretado.
  • Transtorno do Processamento Sensorial (TPS): Esta condição, que envolve uma resposta incomum a estímulos sensoriais (sons, luzes, texturas), é frequentemente confundida com TEA. O TPS pode gerar comportamentos muito semelhantes ao autismo, mas é um transtorno distinto e muitas vezes negligenciado no processo diagnóstico.
  • Atrasos na Linguagem: Dificuldades na comunicação podem ser erroneamente interpretadas como um sinal de autismo.
  • Outras Condições do Neurodesenvolvimento: Paralisia cerebral, deficiência intelectual, epilepsia (especialmente de início precoce), transtornos específicos da linguagem e transtornos genéticos também podem manifestar comportamentos que se assemelham ao autismo, mas não são TEA.

O acúmulo desnecessário de diagnósticos em uma criança, ou a atribuição de um diagnóstico de autismo quando outra condição está presente, pode gerar sofrimento adicional para a família e direcionar a criança para intervenções inadequadas, atrasando o suporte correto para suas reais necessidades.


O Impacto de um Diagnóstico Errado: Quem Paga o Prejuízo?

Um diagnóstico incorreto de autismo pode ter consequências devastadoras para a criança e sua família, afetando profundamente aspectos psicológicos, emocionais e financeiros. O custo de um erro vai muito além do monetário, impactando a vida de todos os envolvidos de maneira complexa e duradoura.

  • Impacto Psicológico e Emocional: Uma família que recebe um diagnóstico de autismo geralmente reorganiza toda a sua vida: escola, terapias, interações sociais e até seus sonhos. Receber meses ou anos depois a notícia de que o diagnóstico era equivocado pode gerar traumas, inseguranças e um sentimento profundo de revolta.

A esperança e o foco em um tratamento específico podem ser substituídos por frustração e desorientação. Além disso, a criança pode ter sido submetida a intervenções que não eram apropriadas para suas necessidades reais, perdendo um tempo valioso para o desenvolvimento adequado.

  • Impacto Financeiro: O custo médio mensal de terapias e intervenções pode ultrapassar R$ 5.000,00 por criança em casos moderados. Quando se soma isso ao tempo perdido e aos custos emocionais, a conta pesa — e muito.

Quando um diagnóstico é errado, esses recursos financeiros são desperdiçados em tratamentos inadequados, que não trazem os benefícios esperados e podem até mesmo ser prejudiciais. O impacto financeiro é significativo, pois as famílias investem tempo e dinheiro em terapias, adaptações e acompanhamentos que se mostram desnecessários ou ineficazes para a condição real da criança. Isso pode levar a um endividamento e a uma sobrecarga econômica considerável.

  • Impacto nas Relações Familiares: O diagnóstico de uma doença crônica, como o TEA, gera um impacto significativo na vida familiar, alterando a rotina diária, a readaptação de papéis e ocasionando efeitos ocupacionais, financeiros e nas relações familiares.

 A sobrecarga emocional e física, muitas vezes concentrada na figura materna, pode levar a estresse, ansiedade e até mesmo a problemas de saúde mental para os cuidadores. A dinâmica familiar é alterada, e a necessidade de lidar com um diagnóstico incorreto pode abalar a confiança nos profissionais de saúde e no sistema como um todo.


E quando o erro é Médico?

Segundo o Código de Ética Médica, errar um diagnóstico não é, por si só, uma infração — desde que o médico tenha seguido todos os protocolos e agido com cautela e boa-fé.

No entanto, diagnósticos negligentes, sem exames clínicos apropriados, baseados apenas em achismos ou feitos às pressas podem configurar erro médico ou negligência. E nesses casos, sim, há consequências.

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 Consequências tendo a comprovação do erro de diagnóstico:

  • A família pode acionar judicialmente o profissional ou a clínica/hospital.
  • É possível pedir indenização por danos morais e materiais.
  • O médico pode sofrer sanções pelo CRM (Conselho Regional de Medicina), que vão de advertência à suspensão do exercício da profissão.

📊 Dados Estatísticos:

  • Um estudo publicado pela Psychiatric Services mostrou que 1 em cada 5 crianças diagnosticadas com TEA pode ter recebido um diagnóstico impreciso.
  • Segundo o CDC, há aumento de diagnósticos precoces, mas muitos casos de sobreposição com TDAH e outras condições ainda causam confusões clínicas frequentes.

Como Agir em caso de Suspeita de Diagnóstico Errado?


1️. Procure uma segunda opinião: de preferência com outro especialista em neurodesenvolvimento ou psiquiatria infantil.

2️. Solicite uma avaliação multidisciplinar: o ideal é que o diagnóstico de TEA seja confirmado por uma equipe (neurologista, psicopedagogo, terapeuta ocupacional, etc.).

3️. Reúna documentos e laudos: tudo o que foi dito e registrado pode ser usado como base jurídica.

4️. Procure um advogado especializado em saúde ou direitos da família.

5️. Denuncie ao CRM se houver indícios de negligência ou conduta imprópria.


O Dilema Ético e Social

Esse tema é ainda mais sensível porque envolve algo que não pode ser tratado como um erro de digitação ou cálculo. Estamos falando de vidas, de crianças, de pais que confiam em cada palavra dita em consultório.

E se há espaço para erro, é urgente que haja também respaldo, escuta, empatia e justiça.


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 Texto original produzido por CérebroZoom – Informação Crítica e Consciência Ativa